Não posso deixar de fazer referência aqui às extraordinárias palavras escritas por Júlian Carron sobre Família e Casamento, em artigo de opinião, no jornal "El Mundo", do passado dia 27 de Dezembro.
Aqui ficam alguns excertos:
Desde há décadas que continuamente recebemos mensagens que vão na direcção oposta: muitas séries de televisão, filmes e muita literatura convidam ao contrário. Ante esse impressionante emprego de meios, o normal seria que a família tivesse deixado de interessar. Porém, há algo que temos que reconhecer quase surpreendidos: essa impressionante maquinaria não mostrou ser mais potente que a experiência elementar que cada um de nós viveu na sua família, a experiência de um bem. Um bem de que estamos agradecidos e que queremos transmitir a nossos filhos e partilhar.
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Necessitamos fazer nosso o que recebemos para poder vivê-lo na nova situação que se nos depara, como nos convida Goethe: “O que herdaste dos teus antepassados/deves reconquistá-lo de novo/para verdadeiramente o possuir”.
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Nada nos desperta tanto e nos faz tão conscientes do desejo de felicidade que nos constitui como o ser querido. A sua presença é um bem tão grande que nos faz cair na conta da profundidade e verdadeira dimensão deste desejo: um desejo infinito. As palavras de Cesare Pavese sobre o prazer podem aplicar-se à relação amorosa: “O que um homem busca no prazer é um infinito, e ninguém jamais renunciaria à esperança de conseguir esta infinitude”. Um eu e um tu limitados suscitam-se reciprocamente um desejo infinito e descobrem-se lançados pelo seu amor a um destino infinito. Nesta experiência desvela-se a ambos a sua vocação.
Por isso os poetas viram na formosura da mulher um “raio divino”, quer dizer, um sinal que remete mais além, para outra coisa maior, divina, incomensurável em relação à sua natureza limitada. A sua beleza grita ante nós: “Não sou eu. Eu sou só um sinal. Olha! Olha! Quem te recordo?”. Com estas palavras o génio de C. S. Lewis sintetizou a dinâmica do sinal da qual a relação entre o homem e a mulher constitui um exemplo comovedor. Se não compreende tal dinâmica, o homem sucumbe ao erro de deter-se na realidade que suscitou o desejo. Então a relação acaba por tornar-se insuportável.
Como dizia Rilke, “este é o paradoxo do amor entre o homem e a mulher: dois infinitos encontram-se com dois limites. Dois infinitamente necessitados de ser amados, encontram-se com duas frágeis e limitadas capacidades de amar. E é só no horizonte de um amor maior que não se devoram em pretensão, nem se resignam, antes caminham juntos até uma plenitude da qual o outro é sinal”.
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