A grandeza da humanidade determina-se essencialmente na relação com o sofrimento
e com quem sofre. Isto vale tanto para o indivíduo como para a sociedade.
Uma
sociedade que não consegue aceitar os que sofrem e não é capaz de contribuir,
mediante a com-paixão, para fazer com que o sofrimento seja compartilhado e
assumido mesmo interiormente é uma sociedade cruel e desumana.
A sociedade,
porém, não pode aceitar os que sofrem e apoiá-los no seu sofrimento, se os
próprios indivíduos não são capazes disso mesmo; e, por outro lado, o indivíduo
não pode aceitar o sofrimento do outro, se ele pessoalmente não consegue
encontrar no sofrimento um sentido, um caminho de purificação e de
amadurecimento, um caminho de esperança.
Aceitar o outro que sofre significa, de
facto, assumir de alguma forma o seu sofrimento, de tal modo que este se torna
também meu. Mas, precisamente porque agora se tornou sofrimento compartilhado,
no qual há a presença do outro, este sofrimento é penetrado pela luz do amor.
A
palavra latina con-solatio, consolação, exprime isto mesmo de forma muito
bela sugerindo um estar-com na solidão, que então deixa der ser solidão. Mas, a
capacidade de aceitar o sofrimento por amor do bem, da verdade e da justiça é
também constitutiva da grandeza da humanidade, porque se, em definitiva, o meu
bem-estar, a minha incolumidade é mais importante do que a verdade e a justiça,
então vigora o domínio do mais forte; então reinam a violência e a mentira.
A
verdade e a justiça devem estar acima da minha comodidade e incolumidade física,
senão a minha própria vida torna-se uma mentira.
E, por fim, também o « sim » ao
amor é fonte de sofrimento, porque o amor exige sempre expropriações do meu eu,
nas quais me deixo podar e ferir. O amor não pode de modo algum existir sem esta
renúncia mesmo dolorosa a mim mesmo, senão torna-se puro egoísmo, anulando-se
deste modo a si próprio enquanto tal
Papa Bento XVI
Ponto 38. Encíclica Spes Salvi (Salvos na Esperança)
Sem comentários:
Enviar um comentário