sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Fazer filhos como coelhinhos

Fala-se muito da Irlanda, da "saída à irlandesa" e não sei quê,
da forma como Portugal deve imitar os indicadores macro
não sei das quantas de Dublin, mas ainda ninguém falou do óbvio:
nós só teremos salvação se começarmos a imitar a taxa de natalidade
dos irlandeses (2,05, a mais alta da Europa).

Os irlandeses fazem bebés como coelhinhos diabólicos
e nós temos de encontrar maneira de replicar essa fuçanga reprodutora.

Porque a grande conversa da nossa geração é só uma:
se os bebés não começarem a cair dos céus,
o corte nas pensões actuais continuará por tempo indeterminado
e as pensões do futuro terão a consistência de um gambozino.

Não é uma questão de vontade, é uma questão demográfica, empírica, factual.

Soluções? Políticas de família? Ok, muito bem.

Sucede que as políticas de famílias implicam
um divórcio temporário entre a mulher e o emprego,
e este assunto ainda levanta ansiedades em Portugal.


No ano passado, numa grande reportagem do Diário de Notícias
 ("Porque é que os Suecos têm mais filhos?"), a jornalista Céu Neves
 ouviu um casal sueco típico: "não é um risco ter filhos.
E isso é bem visto por todos incluindo os patrões.
O que é mal visto é uma mulher de 30 anos procurar emprego,
porque se espera que tenha filhos e esteja com eles nos
primeiros anos de vida".


Ora, se um homem português dissesse publicamente
que as mulheres devem ficar em casa dois anos
a tratar dos filhos, o Carmo e a Trindade cairiam no dia seguinte.


O sujeito seria acusado de machismo, de salazarismo.
Se uma mulher portuguesa dissesse a mesma coisa,
o Carmo e a Trindade cairiam duas vezes.

A senhora seria acusada de subserviência,
seria queimada nos autos-de-fé das brigadas da linguagem. 

Moral da história? Se as suecas vivem bem com a ideia
de ficarem dois anos em casa com os filhos,
muitas e muitas portuguesas vêem isso como um
sinal de subserviência e retrocesso.

Mas eu percebo a reacção. As suecas não tiveram até 1974
um regime que consagrava legalmente o marialvismo.
A minha mãe nunca aceitaria ficar em casa, precisava de um emprego,
a sua identidade dependia dessa consagração pública
.

A geração da minha mulher não é muito diferente.
As portuguesas ainda sentem necessidade de mostrar
que não são as dondocas dos bordados.

Além disso, vivem debaixo do grande medo:
acham que serão despedidas se assumirem a gravidez
e um largo período de licença.

O medo não é descabido: se o patrão sueco vê a maternidade
com bons olhos, o patrão tuga nem por isso
. Mas, verdade seja dita,
este ambiente laboral é apenas o espelho do ambiente caseiro.

Na Suécia, não há tradição da empregada, porque os homens
também ajudam nas tarefas domésticas. Perdão: esqueçam o
"também ajudam". Na Suécia, os homens e as mulheres
dividem as tarefas domésticas.

Políticas de natalidade? Oferecer aventais aos marialvas da pátria.  

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