terça-feira, 20 de novembro de 2012
A ausência do pai na educação familiar sempre foi uma tradição. Hoje, a falta do pai virou desterro: ele foi expulso do âmbito familiar e esta carência, que não se resume à ausência física, adentra em outros setores que resultam irrenunciáveis para a formação dos filhos. Cada relatório psicossocial que leio num processo é sempre uma desventura e a decisão do juiz acaba por ser uma espécie de política familiar de redução de danos ao caso concreto.
Hoje, a falta do pai é, além de física, sobretudo emotiva, cognitiva e espiritual. Tais privações influem em todos os filhos, mas as consequências repercutem mais nos filhos varões, tônica de nossas linhas. O eclipse da paternidade gera uma relação mais empobrecida entre pai e filho, pois a vida de ambos não mais se compartilha e, logo, não há convivência. A figura paterna tem uma dívida de responsabilidade familiar.
A mãe, até alguns anos atrás, era considerada a principal educadora da prole, por uma série de razões que fogem de nosso foco, mas que levavam em conta certas peculiaridades e características psicológicas diferenciadas em razão de sua identidade sexual.
Assim, entendia-se que a educação da prole era uma tarefa tipicamente feminina, por ter mais conta o concreto e os detalhes e em virtude de seu instinto maternal, realismo e especial sensibilidade à unidade de vida que se manifesta nos filhos.
Por outro lado, a revelia paterna justificava-se pela incapacidade do pai em ter aquelas qualidades maternas, agravado pela exacerbada competitividade profissional e pelo natural tendência à abstração. Logo, sua imagem era pouco útil para a educação do filho varão.
Não conheço qualquer resultado empírico que sustente tremenda bobagem: o filho precisa integrar ambos os mundos – paterno e materno – para, depois, na maturidade, assumir e responder adequadamente às complexas contradições que estamos expostos socialmente. Pais e mães têm parecidas habilidades educativas, matizadas por um rico contraste, mas sem que tais matizes justifiquem a exclusão de um ou de outro.
O filho varão precisa se relacionar com ambos, de maneira isolada e conjunta, pois nenhum substitui completamente o outro. O balanço que daí decorre é importante para a educação do filho varão, donde surge a necessidade de um equilíbrio quantitativo e qualitativo nas maneiras pelas quais pai e mãe relacionam-se com os filhos em seus respectivos papéis pedagógicos.
A ausência do pai na educação do filho varão é um fato injustificado cientificamente e de nefastos efeitos não somente para ele, mas com reflexos prejudiciais para a sociedade também. O problema desta ausência, no contexto educativo familiar, é uma questão que, por atingir o próprio núcleo da formação do filho e de sua identidade pessoal, assume uma envergadura irrenunciável.
André Gonçalves Fernandes. Juiz do Tribunal de Família de S.Paulo, Brasil.
Fonte: Portal da Família
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