Sexo: Liberdade ou Repressão?
É inquestionável que o instinto sexual representa uma das forças mais poderosas que motivam as espécies e, por consequência, a espécie humana. É também a busca de alimento outro determinante fundamental do comportamento de qualquer espécie, na espécie humana chamar-lhe-íamos busca de emprego, oportunidades de trabalho, oportunidades de negócio ou de investimento…
O instinto sexual possibilitou que, geração após geração e pelos séculos dos séculos, a espécie humana se tenha reproduzido eficientemente. O instinto de alimentação fez com que o homem sempre tenha garantido recursos básicos para se manter em boas condições de saúde e forma física, permitindo-lhe viver e sobreviver.
O alimento e o sexo constituem dois estímulos positivos fundamentais que o homem busca, tal como a fome e a dor constituem estímulos negativos de que o homem foge continuamente. A questão que se levanta é saber se nas sociedades actuais, com a sua organização própria, moderna e distinta das sociedades ancestrais, existe uma correcta gestão dessas duas forças estruturantes da sociedade e da economia, ou se pelo contrário as sociedades modernas apresentam maus resultados e má performance na sua forma de lidar com as problemáticas relacionadas com a sexualidade e na sua forma de gerir os recursos básicos.
A sociedade actual é uma sociedade de consumo, e de muito desperdício também, e apresenta crescentes dificuldades em assegurar a sustentabilidade ambiental bem como o necessário equilíbrio económico-financeiro. A moral vigente, por outro lado, caracteriza-se por uma tolerância nunca antes imaginada perante comportamentos anti-sociais e perante atitudes negativas para a estabilidade das famílias, por exemplo a forma permissiva como é encarado o consumo de drogas ou a forma despreocupada como encara a actividade sexual dos jovens, ou ainda a naturalidade surpreendente com que são vistos fenómenos aberrantes como o aborto, equivalente dos nossos dias ao infanticídio praticado a bel prazer na Antiga Roma.
As questões da gestão de recursos e das normas de conduta social na sociedade actual entroncam na defesa do ambiente por um lado e na moral e religião por outro. Torna-se cada vez mais evidente que não existe possibilidade de esbanjar recursos como até aqui e que a crise veio para ficar, e são também cada vez mais evidentes os sinais de ruptura ética e moral e as consequências socialmente nocivas que o excesso de liberdade de comportamentos trouxe.
A produção excessiva de bens, a ocupação sem critério do território, a poluição e contaminação, a concentração da população em cidades, a produção astronómica de resíduos e a impossibilidade prática de repor o equilíbrio através de paliativos como a reciclagem, conduz a um cada vez mais provável colapso ambiental a prazo e à falência inevitável da sociedade de consumo como tal, seja através do esgotamento dos recursos naturais, seja por via da subida em flecha do custo de bens como terra ou matérias-primas agrícolas, na prática duas faces da mesma moeda. Quanto à liberdade sexual, socialmente aceite a partir dos anos 60, vitoriosa com o Maio de 68, e gradualmente ampliada nos 40 anos seguintes sob todos os regimes político-partidários e contextos sociais, coloca também uma série de interrogações à sociedade actual. Em concreto, pergunta-se: conseguiu essa liberdade sexual criar famílias mais estáveis e duráveis? Conseguiu a liberdade sexual criar uma sociedade mais equilibrada, com menos violência por exemplo? Conseguiu a liberdade sexual gerar solidariedade inter-geracional entre jovens, adultos e idosos que permita uma maior protecção na velhice? Conseguiu a liberdade sexual erradicar a prostituição, ou a pedofilia, por exemplo? Conseguiu esta sociedade um nível de natalidade saudável de forma a assegurar sangue novo na actividade económica e na vida comunitária? Conseguiu esta sociedade gerar os excedentes necessários à garantia das pensões futuras? Conseguiu esta sociedade integrar os jovens e as minorias étnicas e evitar os conflitos raciais gerados pela imigração? A resposta é não, não e não. A sociedade actual tem mais violência doméstica, mais famílias desestruturadas, mais jovens drogados e alcoolizados, mais mulheres abandonadas e homens alienados, mais idosos marginalizados, mais crianças abusadas que antigamente; esta sociedade tem muito mais chagas sociais do que a sociedade disciplinada e tutelada em que se vivia há meio século atrás. E, apesar de todos os progressos da ciência e de todos os desenvolvimentos da economia, estamos a caminhar de novo para que haja também cada vez mais pobres que antigamente.
As sociedades actuais desperdiçam todo o tipo de recursos e são predadoras do ambiente na sua busca incessante do lucro imediato, têm essencialmente horizontes de curto prazo e não se importam de sacrificar o meio ambiente, os cursos naturais de água, a paisagem, o património natural e histórico, não se importam de sacrificar a memória e também o futuro, em nome apenas do lucro e do crescimento imediato. Por outro lado, as sociedades modernas têm uma visão vincadamente material, estreita e atávica da vida sexual e na realidade, disponibilizam sexo a jovens e adultos, a troco de nada. Os jovens são incitados à actividade sexual em idade o mais precoce possível e os adultos são compelidos socialmente a aceitar como regra do jogo a legitimidade de relações sexuais na generalidade dos contextos extra-matrimoniais. A família está sob constante ameaça e entra facilmente em auto-dissolução em virtude da facilidade de relacionamentos extra-conjugais, socialmente aceites.
Quão diferentes eram as sociedades de outros tempos, nas quais as regras de convivência implicavam um permanente escrutínio social do comportamento de jovens e adultos. Nelas, o jovem e a jovem só teriam direito a uma vida sexual plena caso provassem e comprovassem a sua capacidade de sustentar a família que iriam constituir, caso demonstrassem as suas qualidades de trabalho e honestidade, destreza, virtude. A pré-selecção e selecção eram levadas a cabo não só pelas partes directamente interessadas, ambos os namorados, como ainda pelos pais de ambas as partes, que com a sua experiência e o seu interesse pelo bem dos filhos validavam ou não as escolhas e os projectos apresentados. Em vez da distribuição grátis de preservativos e de promoção de comportamentos aberrantes, havia uma cultura de exigência e responsabilidade, em vez de uma submissão cega dos adultos aos caprichos e inclinações dos jovens, havia uma cultura de respeito pela opinião e conselhos dos mais velhos e pelo seu juízo nascido da experiência. E o resultado final não era mais do que a produção de homens e mulheres responsáveis e maduros capazes de fundar famílias sólidas, estáveis e duradouras. E em vez de afundar os jovens no facilitismo e no parasitismo, obrigava-os a tornarem-se socialmente válidos, úteis e responsáveis. Ou seja, a sociedade sabia cobrar o seu preço pela satisfação da pulsão sexual e afectiva dos seus jovens, em vez de a desperdiçar sem contrapartidas socialmente válidas.
1 comentário:
Mais um artigo esplêndido!
As perguntas acerca dos resultados da desresponsabilização sexual acertaram em cheio e fazem pensar.
Se a nossa sociedade não aprender com as consequências patentes da irresponsabilidade sexual, vai produzir mais injustiças e mais sofrimento.
Parabéns pelo artigo.
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