domingo, 21 de setembro de 2014
Somos um teatro de contradições e discordâncias. Palcos de batalhas sangrentas. Peões numa circunstância caótica que em nada se adequa à paz para a qual parecemos ter sido criados.
Cada homem encontra em si forças contrárias que estão em guerra permanente. Estes extremos nunca se anulam e parece não haver possibilidade alguma de se descobrir um equilíbrio entre eles. Somos este ser onde, a cada dia, infindas lutas se travam entre tendências contrárias, este mar de tempestades sem fim… Assim é o homem. Assim somos nós. Assim sou eu.
Somos um teatro de contradições e discordâncias. Palcos de batalhas sangrentas. Peões numa circunstância caótica que em nada se adequa à paz para a qual parecemos ter sido criados.
Mais, quase nada é linear ou previsível. A vida de cada um de nós é feita de saltos repentinos, de oscilações abruptas. A todo o momento tudo pode mudar.
Somos livres de escolher os nossos dias e noites, mas estamos condenados a criarmo-nos por entre esta imensidão de paradoxos.
Mais ainda, cumpre-nos dar sentido às nossas escolhas, dar um sentido à nossa vida. Um mesmo episódio pode ser interpretado de diversas formas, diferentes entre si, contrárias… Cabe-nos escolher a luz que deve iluminar o que está à sua volta. Escolhe-se a forma como se vê o mundo, e assim se escolhe o mundo em que se vive. Mas sempre, sempre, numa tensão permanente entre extremos opostos.
Por vezes o desespero apodera-se das esperanças e a angústia parece absoluta. Queremos tanto a paz, que chegamos a pensar que ela só é possível através do abandono da luta… Mas não. As forças do exterior e do interior, da solidão e da comunhão, das incertezas e da fé, jamais se anulam e parecem encontrar sempre forma de nos colocar mesmo no meio das suas guerras.
Há ambiguidades que merecem ser admiradas. Se, por um lado, ansiamos por algo muito melhor do que aquilo que temos aqui e agora, por outro, quando confrontados com a possibilidade de o alcançarmos, quase todos começamos a valorizar o que antes era insignificante. Como se só valorizássemos o que estamos prestes a perder… mas, a verdade, é que estamos sempre prestes a perder tudo. Tenhamos ou não consciência disso.
A linha que separa o bem do mal não é uma linha que separa uns homens de outros, mas um fio que atravessa o coração de cada um de nós. Em todos nós há coisas boas e coisas más.
Não seremos todo o bem que queremos, mas também ninguém é o mal absoluto. A cada um depende traçar essa fronteira… Até no pior ser humano há, até ao fim, a possibilidade do bem supremo; assim também em cada homem bom paira, até ao último segundo, a possibilidade da tragédia absoluta.
Mas, no fundo de cada um de nós, há a certeza de um sentido.
Há outra luz… Vivemos em constante tensão entre opostos, mas eles não lutam uns contra os outros, um em cada um dos nossos ombros puxando cada um para seu lado. São extremos, mas um é o ponto de partida e outro o de chegada. Cada passo é uma batalha que travamos, a fim de nos afastarmos do mal e de nos aproximarmos do bem.
Talvez não haja bifurcações diante de nós, em que tenhamos que escolher apenas um dos caminhos… talvez o caminho seja apenas um… em que ou se faz caminho para diante… ou para trás. Ou… talvez… o nosso único caminho possa apenas ser bem ou mal feito.
Cada homem pressente, no fundo de si, o seu destino. Sou um viajante que tem de construir pelas suas mãos o seu caminho… do mal ao bem. Dos medos à felicidade. Dos egoísmos ao amor.
A única verdadeira tensão que existe em mim é entre o que fui e o que quero ser. Os saltos são necessários perante os muitos abismos em que perco a fé em mim…
Viver é amar. É levar o coração pelos mares dos momentos até ao fim dos tempos, em direção a um bom porto que havemos de construir ao longo da viagem.
José Luís Nunes Martins
ionline 2014.09.20
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