quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Dar sem medo

 
 
Se todos estamos prontos para a «verticalidade», até para a superioridade, precisamos de baixar o nosso orgulho, deminorar a nossa visibilidade (já que dar não precisa de espectadores), no sentido de nos reduzirmos ao anonimato. Quem recebe bens materiais (a não ser que queira explicitamente) não precisa de saber quem deu. Só tem necessidade de usufruir da dádiva.
Por isso, se pensarmos que, um dia, de alguma forma, podemos ter de vir a receber de alguém, o melhor épassarmos a dar como gostaríamos de receber, ou seja, como gostaríamos que nos viessem a dar.
Na atualidade, por mais que se fale de altruísmo, de voluntariado, de humanização das relações, cada vez se «contabiliza» com maior veemência o que se dá. Estes são conceitos cada vez mais teóricos, cada vez mais desenvolvidos no plano da descodificação dos seus sentidos, mas cada vez menos vividos com tranquilidade e desejo de ser.
As pessoas dão para que vejam que deram.
As pessoas dão, frequentemente, do que já não lhes faz falta.
As pessoas dão, com regularidade, daquilo que não presta.
O que não presta para nós, não presta, decerto, para ninguém. Por isso, a dádiva tem de ser incondicional, tem de ser uma partilha genuína. Tem de ser uma atitude de continuidade, adotada por cada um como uma forma de estar na vida. Não damos tudo, mas damos do que é bom, do que é útil, do que faz bem, ainda que nos possa vir a fazer falta. Damos sem medo. Damos sem esperar nadaem troca, sabendo, contudo, que quanto mais dermos,mais viremos a receber.
E este dar não é apenas material. É também dedicação, tempo, interesse, disponibilidade ... Pode ser tudo, desde que o avaliemos e sintamos como verdadeiramente relevante e útil.
 
Margarida Corto

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