sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Um novo paradigma


            Nos últimos 25 anos assistimos à queda de dois muros, o de Berlim, simbolo do comunismo e o da Lehman Brothers, simbolo do delírio bancário e financeiro que caracterizou a época áurea do capitalismo exacerbado.

            De facto, os bancos e as financeiras apelaram a um consumismo desenfreado das pessoas, na ânsia do ter mais coisas, uma casa mais confortável e com mais comodidades, um carro de maior cilindrada e de marca mais vistosa, etc. Já sabemos no que deu este delírio. Agora com os bancos a necessitarem de ajuda, que os países e os consumidores endividados acordaram da ilusão em que viveram, cabe-nos a todos pagar a factura da crise, apertando o cinto cada vez mais. O que é certo é que toda esta nova conjuntura está a criar um novo paradigma social, económico, e financeiro.

            Ao nível social, verificamos que uma das consequências da crise actual reside no agravamento da (já anteriormente existente) crise demográfica, com a redução do número de nascimentos, com consequências graves ao nível quer da sustentabilidade do sistema de contribuições para a Segurança Social, quer da colocação de professores em virtude da diminuição drástica da população escolar. Outra das consequências, ao nível social, reside no recurso a novas formas de solidariedade, com particular destaque para as trocas directas, entre pessoas e famílias de bens, serviços ou alojamentos. Livros, roupas, brinquedos, material informático, móveis, electrodomésticos, etc. incluem-se nesta nova forma de transferência de bens, utilidades e serviços que, ainda assim, tem de ser mais aperfeiçoada, apesar do muito que já se avançou nesta área na internet e através das IPSS’s. O reforço dos laços familiares é curiosamente outra das consequências a que estamos a assistir como consequência da crise verificando-se, por um lado, a diminuição do nº de divórcios e, por outro, a manutenção (ou regresso) dos idosos às suas casas de família. O recurso ao crédito agilizava o divórcio, permitindo a aquisição de novas casas, acompanhada pela troca de parceiro. Agora, mesmo os casais que vivem com problemas conjugais entre si, tentam ultrapassá-los, havendo uma maior tolerância e compreensão de forma a manterem a solidez económica da família. O “El Dorado do céu na terra” oferecido por financeiras e bancos ajudava a incutir nas pessoas a ideia de que também no seu relacionamento afectivo seria possível encontrar um parceiro melhor, com menos defeitos e mais qualidades, tal como acontece com os carros, telemóveis e pc’s, e se fosse necessário refazer a vida, lá estaria o banco para oferecer mais um crédito.

            Ao nível económico, verificamos quer o encerramento de muitas empresas, quer a sua reconversão apostando em outros nichos de mercado e reduzindo pessoal. A ideia de produzir bens, casas, eletrodomésticos, carros, entre outros em catadupa promovendo o desperdício e o endividamento, era claramente um exagero, aliás, chocante se pensarmos que em outras partes do mundo mais desfavorecidas, em particular no hemisfério sul, muitos morriam com a falta do que outros,em países do hemisfério norte, esbanjavam.

            Esta nova conjuntura, para uns, convida ao desemprego ou ao trabalho em part-time ou com horário reduzido, uma vez que as exigências de produção não serão tão grandes enquanto que, para outros, implicará trabalhar mais horas e mais intensamente. Com menos trabalho ou mais trabalho por menos preço, também o Estado sofre porque recolhe menos impostos e caímos num circulo vicioso.
            O mais chocante é que quer os bancos, quer uma minoria de milionários continuam a abusar da sua sorte, tentando obter mais rentabilidade, ainda que à custa da miséria dos outros. Por isso, sobre estes há que ter a coragem de também adoptar medidas.

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