segunda-feira, 19 de julho de 2010

Nós estamos melhor, porque os outros estão piores



Se este texto ficasse para a história (o que, para bem da história, não sucederá), seria certamente considerado como um dos textos mais imbecis escritos nesta primeira década do séc. XXI em Portugal e uma das mais grosseiras tentativas de manipulação da verdade.

Vejamos: em Portugal não se aborta muito, sabem porquê? Porque nos outros países aborta-se mais. Boa! Está tudo bem! Nós, comparados com outros, eliminamos menos vidas inocentes! Regozijemos! E ainda dizem uns exagerados dos movimentos pró-vida que não somos um país de brandos costumes.
A argumentação 'os outros estão piores', que por agora se ensaia nos movimentos pró-aborto, já é paupérrima, mas sofre ainda da desvantagem de não ser verdadeira.
Durante a campanha para o referendo e até há pouco tempo estimavam-se que em Portugal se fariam anualmente (entre legais e ilegais) cerca de 20.000 abortos, número que foi obtido partindo do número de abortos realizados face ao número total de nascimentos nos países onde o aborto é legal (o número de abortos é um quinto do número de nascimentos).

Em Portugal, no ano passado realizaram-se mais de 19.000 abortos para cerca de 100.000 nascimentos. Como se prevê que o número de abortos vá continuar a aumentar e ultrapasse os 20.000 estimados, ultrapassando assim o rácio aborto/nascimentos dos restantes países europeus, o movimento pró-aborto quer então convencer-nos que o número de abortos não deve ser aferido tendo em conta o número de gravidezes (que resultam ou em nascimentos ou em abortos) - apesar de este rácio ter sido bom durante a campanha para o referendo e para averiguar os resultados do primeiro semestre de aplicação da lei - mas sim considerando o número de mulheres em idade fértil. E se algum dia este rácio aborto/mulheres-em-idade-fértil também falhar, não se preocupem, será encontrado outro que nos assegurará da justiça da lei portuguesa, será esquecido qualquer outro indicador que alguma vez tenham usado e quem os referir revelará, tão somente, tacanhez de espírito e incapacidade de ver os problemas na perspectiva correcta.

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