quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O ABORTO ESTÁ AUMENTAR E ESTÁ A SER USADO COMO MEIO CONTRACEPTIVO

87% das mulheres que abortam não usam contraceptivos

Coordenador nacional de Saúde Reprodutiva diz-se preocupado com o cenário do aborto em Portugal. Na maior maternidade do País, 1425 das 1632 que fizeram interrupções não usavam contracepção

"É incrível a desresponsabilização de alguns casais." O aviso é do coordenador do Plano Nacional de Saúde Reprodutiva, Jorge Branco, referindo-se ao facto de 87% das mulheres que no ano passado abortaram na Maternidade Alfredo da Costa (MAC), a maior do País, não usarem qualquer contraceptivo. Isto é, 1425 das 1632 que interromperam a gravidez não faziam planeamento familiar nem prevenção de doenças.

Além disso, na MAC, que reflecte a tendência nacional, assistiu-se também a um aumento de interrupções voluntárias da gravidez (IVG): número de IVG de 2008 para 2009 subiu 8% - de 1516 para 1632. O aumento de abortos em Portugal é comprovado pela Clínica dos Arcos, em Lisboa, a única privada do País a fazer estas intervenções, grande parte encaminhada pelos hospitais públicos por falta de médicos ou por estes serem objectores.

E segundo dados a que o DN teve a cesso, nos Arcos, o crescimento ainda foi mais acentuado: em 2009, foram feitas 6113 IVG, mais 751 do que no ano anterior - o que corresponde um aumento de 15%.

Outra das questões que preocupa o coordenador do Plano Nacional de Saúde Reprodutiva é o facto de muitas mulheres fazerem abortos repetidamente. É que, do total de abortos realizados na MAC, em 468 dos casos já não era a primeira vez que a mulher realizava uma interrupção da gravidez.

"A maioria das mulheres que veio à MAC não fazia planeamento familiar e mesmo depois do aborto algumas optaram por continuar a não fazer nenhum método contraceptivo", conta Jorge Branco, criticando.

Segundo o clínico, depois da interrupção voluntária da gravidez, todas as mulheres foram encaminhadas para consultas de planeamento familiar e houve 125 que continuaram a recusar usar contracepção.

Com a entrada da nova Lei em Abril de 2007, o número de abortos foi sempre subindo: nesse ano realizaram-se, a partir de Julho, 6287 abortos, valores que voltaram a aumentar de 2008, quando se fizeram 15960 abortos, para 2009. Os números totais do ano passado ainda não foram divulgados pela Direcção-Geral de Saúde, conhecendo-se apenas os do primeiro semestre que apontam para 9667.

Mas tendo em conta os dados totais da MAC e da Clínica dos Arcos a tendência é de subida elevada. "Estes valores terão tendência a estabilizar", acredita Jorge Branco. Mas Yolanda Hernández, directora da Clínica dos Arcos, não confia nesse cenário: "A informação sobre a despenalização vai chegando aos poucos às mulheres e nos próximos anos este número vai continuar a aumentar."

De acordo com a responsável da clínica, "a maioria das mulheres que vai aos Arcos chega do público". Ou seja, houve um aumento do número de mulheres encaminhadas pelos hospitais, com comparticipação total do aborto até às 10 semanas. Em 2008 foram 3727 e em 2009 o número passou para 4583 (mais 23%). Já o número de mulheres que vão directamente à clínica para fazer um aborto desceu.

Para Luís Graça, presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno- -Fetal, o aumento de mulheres encaminhadas pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS) deve-se a hospitais, como o São Francisco Xavier, onde os profissionais são todos objectores de consciência.

Além disso, Luís Graça acredita que "o SNS não tem capacidade para resolver todas as situações", embora garanta que do Hospital de Santa Maria, onde é director do serviço de ginecologia e obstetrícia, "não foi encaminhada nenhuma mulher" para os Arcos.

"Nós só aceitamos os casos dos centros de saúde da área que servimos e conseguimos resolver todas as situações, pelas quais nos responsabilizamos", diz o clínico de Santa Maria, onde o número de intervenções também subiu "ligeiramente", sem, no entanto, adiantar números.

Já a MAC, só em Agosto de 2009 encaminhou 149 mulheres para aquela clínica privada. "Nas férias não conseguimos dar resposta aos pedidos", admite Jorge Branco. A grande parte dos abortos foi de mulheres entre os 21 e 29 anos (674), seguida das grávidas dos 30 aos 39 anos (535). "Ainda estamos em crise, as mulheres não querem comprometer-se com mais encargos. E também pensam cada vez mais na sua carreira", explica Jorge Branco.
Notícia daqui.

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