terça-feira, 16 de junho de 2009

As costas (muito largas) da crise e o aborto



E a que se deve este aumento?

À facilitação do aborto e à sua banalização em consequência da despenalização votada em 2007, acompanhada de medidas simpáticas como a gratuidade do aborto nos hospitais públicos, o pagamento a 100% do ordenado até um mês a quem decida abortar (ao contrário de qualquer pessoa que esteja doente e de baixa, que não recebe a totalidade do ordenado)?

Aumento esse, de resto, esperado (e previsto por todos os movimentos anti-aborto)?

Mas está claro que não: a razão do aumento deste número de aborto deve-se à crise económica, ora pois claro.

Não faço ideia como os senhores citados terão essa informação tão certa sobre as razões que levam as mulheres a abortar; afinal, o aconselhamento prometido nos dias finais da campanha para o referendo foi descartado na lei porque nem pensar em pedir a uma mulher que dissesse as razões que a levam a abortar e era o que faltava alguém sugerir-lhe opções menos letais.

Será que agora obrigam as grávidas a responder a um questionário?

E vão confirmar a veracidade do que lá é dito? (Porque, lamento, mas um aborto, por mais legal que seja, é e será uma realidade stinky e é provável que as mulheres inventem todas as desculpas que as impeçam de dizer 'não me apetece ter um filho' ou 'não me apetece/consigo contrariar o meu namorado/marido').

Mas não, os abortos estão a aumentar devido à crise (o que, se fosse verdade, seria uma vergonha sem tamanho para um governo que se diz preocupado as 'condições sociais'). No ano passado o aborto aumentou relativamente ao segundo semestre de 2007 com a incorporação dos abortos ilegais.

Para o ano aumentarão, quem sabe, por efeito do crescente número de divórcios (mesmo que este crescimento siga apenas a tendência de anos anteriores) e, em 2011, talvez aumente o número de abortos com a histeria provocada pela, , retoma das economias.

O que é certo é que haverá sempre razões para o aumento do número de abortos e que nessas razões nunca estarão incluídas as condições simpáticas e nada dissuasoras que os senhores que administram o dinheiro dos contribuintes dão a quem quer abortar.

Já que estamos perto de eleições legislativas, seria bom lembrar ao PSD uma medida higiénica nesta questão. Se em 2007 se ganhou legitimidade para despenalizar o aborto até às 10 semanas, nada legitimou uma lei que activamente promove o aumento de abortos e ainda paga um ordenado às mulheres que os fazem e gasta o dinheiro dos contribuintes destas formas edificantes.

Assim, seria mesmo muito higiénico o PSD propor o fim do aborto gratuito e nos hospitais públicos (o que só se justificaria se houvesse alguma tentativa de prevenir o aborto, o que não se poderia esperar de clínicas que ganham dinheiro com este negócio, mas que não se verifica nos hospitais estatais).

Maria João Marques, in Cachimbo de Magritte

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