sexta-feira, 6 de setembro de 2013

O sabor da vida

 
 
Como podemos ganhar prazer na vida?
Esta questão move hoje muitas pessoas.
A nossa cultura virada para o divertimento não pretende mais nada do que viver e viver depressa e de preferência com condições agradáveis.
A vida gasta-se depressa quando queremos ter tudo de imediato. E torna-se a qualquer momento demasiado barata, quando tudo é de fácil acesso.
O prazer de viver não significa apenas a procura da satisfação pessoal.
Para experimentar o prazer de viver, eu preciso de disciplina.
Eu tenho de aprender a arte da vida. E ela implica ter contenção nas palavras, na língua.
A língua corresponde aqui a cada declaração que se faz.
"(...) na medida em que eu faço o bem, experimento a vida. Na realização do bem torno-me vivo. E, nesse caso, a vida floresce em mim.
 
Hoje em dia, há um grande desejo de viver, sobretudo por parte dos jovens.
Eles querem experimentar a vida a todo o custo.
Mas, muitas vezes, confundem vida com vivência.
Eles pensam que o recheio da vida está no facto de terem muitas vivências.
A vida não está dependente da quantidade das vivências, mas da sua qualidade.
A vida não é, antes de mais, consumir, mas percecionar, sentir, provar e saborear.
Não é a quantidade de coisas que eu tomo para mim que decidem se eu vivo realmente, mas o modo como eu perceciono e experimento aquilo que me é oferecido. Tem a ver, sobretudo, com a intensidade da vida.
 
«Ninguém te pode magoar a não ser tu mesmo- Uma condição decisiva para experimentarmos realmente a vida é que não nos magoemos continuamente.
Há muitos que tornam a sua vida difícil, porque se deixam sempre magoar ou porque se magoam a si mesmos.
Eles desvalorizam-se, sentenciam-se, culpabilizam-se, procuram em si mesmos a razão de cada conflito que acontece.
Ou então deixam-se magoar pelos outros, permitindo que tenham demasiado poder sobre eles. Tornam-se completamente dependentes das doações de uma pessoa.
 
 
Franz Kafka conta a história de um homem que queria atravessar os portões de um castelo. Mas o porteiro impedia-o. Ele esperou diante da porta até ficar velho e doente. Quando estava a morrer, o porteiro fechou o portão dizendo: «Este portão era destinado só a ti.»
Há muitas pessoas que, durante toda a sua vida, não atravessam a porta que as conduz à vida. Preferem outras. Ou então têm medo de atravessar a porta estreita. Elas receiam os esforços, o ter de incomodar o porteiro até que ele as deixe passar. A porta estreita não é a porta do trabalho, mas a porta que está destinada só para mim. Para atravessar esta porta preciso de me desfazer das ilusões que fiz de mim.
 
 Com um coração grande posso experimentar a grandeza e a liberdade da vida. Mas o caminho para esta grandeza do coração atravessa a estreiteza da ordem e da renúncia. Para poder saborear, tenho de aprender a renunciar.
Para me tornar grande, tenho de atravessar a estreiteza.
A verdadeira qualidade de vida está em experimentar a grandeza do coração no meio da pequenez do dia a dia. Quando eu percorro os conflitos diários e a pequenez que me rodeia, com este grande coração, torno-me vivo e livre. E ninguém me pode tirar essa grandeza da vida.
 
Anselm Grün
In Bento de Núrsia - Mestre da espiritualidade, ed. Paulinas
04.09.13

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