terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

A gravidez na Bíblia

 
Todas as culturas, grandes e modestas, celebraram sempre com respeito e amor a gestação. Leiam-se, por exemplo, as extraordinárias estrofes do Salmo 139 que cantam a misteriosa ação de Deus: «Tu modelaste as entranhas do meu ser/ e formaste-me no seio de minha mãe./ Dou-te graças por tão espantosas maravilhas; admiráveis são as tuas obras./ Quando os meus ossos estavam a ser formados,/ e eu, em segredo, me desenvolvia,/ tecido nas profundezas da terra,/ nada disso te era oculto./ Os teus olhos viram-me em embrião./ Tudo isso estava escrito no teu livro./ Todos os meus dias estavam modelados,/ ainda antes que um só deles existisse» (13-16). As imagens são as do tecelão e do oleiro.
Job, noutra estrofe de grande sugestão, imagina que Deus é, além de tecelão e oleiro, no ventre da mãe como um pastor que modela uma forma de queijo: «Foram as tuas mãos que me formaram e modelaram […]. Não me espremeste como o leite, coagulando-me como quem faz queijo? De pele e de carne me revestiste, de ossos e de nervos me consolidaste» (10, 8-11).
De acordo com a curiosa ciência médica do tempo, pensava-se que o embrião fosse a simples coagulação do sémen masculino, favorecida pela menstruação da mulher – o óvulo feminino só foi identificado em 1827 por Karl Ernst von Baer. Com efeito, o livro bíblico da Sabedoria coloca na boca de Salomão estas palavras: «No ventre de uma mãe fui feito carne. Durante dez meses [lunares] fui ganhando corpo no sangue, a partir do sémen do homem e do prazer conjugal» (7, 1-2).
Em Maria, a gravidez adquire um carácter absolutamente único, que se exprime pelas palavras do anjo Gabriel: «Hás de conceber no teu sei o e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. Será grande e vai chamar-se Filho do Altíssimo» (Lucas 1, 32).
 
Card. Gianfranco Ravasi 
Biblista, presidente do Pontifício Conselho da Cultura 
In "Famiglia Cristiana" 
Trad. / edição: Rui Jorge Martins 
Publicado em 15.02.2015

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