Quando se fala em propriedade privada vêm-me logo à cabeça
2 formas diferentes de a encarar : o comunismo e o capitalismo. Na primeira,
não há propriedade privada e tudo é de todos. Na segunda , o mercado e a lei
dos mais fortes prevalecem numa atitude de puro individualismo egoísta. Ambas
falharam. Mas nunca a obsessão pela propriedade esteve tão na ordem do dia,
sobretudo se olharmos para a origem de uma parte significativa dos conflitos em
tribunal, no Médio Oriente ou no leste da Ucrânia. Em todos eles verifica-se um
denominador comum: o da a ganância pelo domínio e pela propriedade.
No passado dia 5 de Agosto, o
Patriarca Caldeu do Iraque, numa carta desesperada dirigida ao mundo, a
propósito do avanço dos selvagens extremistas islâmicos dizia o seguinte "
Há que destacar que a motivação para
todas estas matanças é a luxúria por tudo quanto existe no subsolo, tal como o
petróleo e o gás”.
No estado da evolução humana, já
devíamos estar há muito na posição da supremacia e instrumentalização da
propriedade a favor da humanidade e não à patética e cretina situação da
supremcia e instrumentização da humanidade em função da propriedade.
Vale a pena matar crianças e semear a morte e a destruição
por dinheiro ?
As empresas que lucram com o comércio internacional de
armas, extracção de petróleo e gás e que
manipulam e financiam o terrorismo religioso com vista à sua especulação
mercantil acham que si.
Não sejamos hipócrita, o dinheiro, a produção de riqueza e
o bem estar não são só, de per si, maus. O que é mau é a forma gananciosa como
os proprietários gerem os seus bens. E é triste ver que até mesmo os jovens ou
as pessoas mais humildes, quando têm algum dinheiro, torram-no rapidamente em
futilidades consumistas e isto já para não falar nos comunistas burgueses ou na
chamada “esquerda caviar” dos que defendem os ideais de Marx e Engels mas depois
actuam como capitalistas da pior espécie.
Há, porém, alternativas a estas visões extremas de ver a
propriedade. Dessas destaco a da chamada função social da propriedade privada e
o distributismo. Em ambas defende-se o direito à propriedade privada e à livre
iniciativa, mas defende-se também que a propriedade privada deve estar, sempre
que possível, ao serviço da comunidade.
Com diz Miguel Nogueira de Brito, no seu livro "Propriedade privada: Entre o privilégio e a
liberdade", da colecção "Ensaios da Fundação" Francisco
Manuel dos Santos "(...)o princípio da
comunidade corresponde ao ponto a partir do qual a função social da propriedade
deixa de incumbir ao legislador e passa a constituir um imperativo ético
individual" (Pág. 128).
Por esta via, qualquer pessoa que
tenha dinheiro, casas, carros, etc.. deve colocá-los ao serviço de colegas,
amigos e vizinhos que, por motivo de contexto pessoal, profissional ou familiar
não o têm. Isto pressupõe um enorme sentimento de desprendimento que é muito
raro encontrar.
Já o distributismo, tendo a mesma
raíz da função social da propriedade privada, vai mais longe e defende a sua
adopção como sistema económico global, mas parte também da constatação de que
tem sido a ganância pelos bens materiais que, ao longo da história, tem vindo a
destruir famílias tanto nos tribunais como nos campos de batalha. Não deixa de
ser significativo que um dos seus arautos G.K. Chesterton tenha escrito um
livro denominado “What’s wrong with the
world”.
Uma coisa é certa, há que promover
uma revolução que passe 1º por uma mudança de mentalidades. Poderá demorar
gerações, mas há que começar já !
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