No atual
contexto de crise que ainda vivemos, aqui no Algarve (e provavelmente em outras
zonas do país) é chocante ver a quantidade de gente que se está a completamente
a "marimbar" para quem
passa mal.
Não falo
só do abandono de idosos nos lares, sem visitas e sem que alguém da sua família
mostre interesse e carinho. Falo também do alheamento da esmagadora maioria das
pessoas, em particular, daquelas que, fruto do seu trabalho ou de heranças, têm
mais possibilidades financeiras e mais poderiam ajudar quem mais sofre com o
desemprego, a falta de comida para alimentar os filhos, de dinheiro para pagar rendas,
a água, luz, uma botija de gás, etc.”O
que é que interessa!” pensam aqueles a quem vida corre bem.
Não têm
nada a ver com isso! Cada um que saiba de si! O Estado que se endivide mais
para lhes dar subsídios e apoios! Uma parte da população são autênticos
monstros indiferentes que só se preocupam com o seu umbiguinho, as suas
viagens, o seu bem estar, os seus programinhas e o resto é lá com eles.
É engraçado que muitas
histórias de heróis e grandes façanhas, verdadeiras ou de ficção, começam
com um dilema moral. Falam-nos de pessoas normais, objectivamente sem grandes
meios humanos ou materiais que, a dada altura são "importunadas" por
alguém com quem se cruzam e alguém que os desperta para desafios e realidades
que até aí lhes eram completamente alheias. E estando numa situação acomodada,
aburguesada, com projetos de bem estar e conforto são abanadas e atraídas a sair
da sua concha. Alguém lhes atira um balde de água fria à cara e lhes pede que
compliquem a sua vida, deixem de olhar só para o seu umbigo, os seus bens e os
seus programas para se meterem em assuntos e pessoas que nada têm a ver com a
sua vida: gente que não é da sua familia, nem sequer sua amiga ou do seu país
ou região; gente que, pelas mais variadas razões, são oprimidas, passam mal e
são vítimas de injustiça.
E este dilema moral está lá sempre presente: “borrifo-me ou preocupo-me” ?
Estou-me a lembrar dos Alentejanos que, em 1384, D.Nuno
Alvares Pereira desesperadamente tentava convencer a participar na futura (e
aparentemente suicida) batalha de Atoleiros, tendo inclusive apanhado alguns a
meio da noite a desertar.
Estou-me a lembrar de Bilbo Baggins e do seu sobrinho
Frodo que resistiram ao apelo de Gandalf e dos anões para viajarem a terras
distantes e desconhecidas, quebrando o aparente ciclo de felicidade do Shire
onde estavam comodamente instalados.
Estou-me a lembrar da estudante universitária norte
americana Jean Donovan que, desafiada pelo capelão da sua Universidade,
lançou-se no interior de El Salvador, acabando assassinada, em 1980, de forma
brutal e que antes de partir para a América do Sul, perguntava-se a si mesmo “Porque é que eu não posso ser apenas uma
insignificante dona de casa dos subúrbios ?”
Estou-me a lembrar do sr Scrooge do “Conto de Natal” de Charles Dickens, o
milionário ávaro, mal disposto contra o mundo e contra todos.
Infelizmente o que se vê à nossa roda, é a esmagadora
maioria das pessoas metidas em si mesmas e nas suas coisas, querendo gozar tudo
o que de bom a vida tem para dar, encolhendo apenas os braços pela má sorte de
outras pessoas menos afortunadas. Alguns parece que querem levar o dinheiro
para a cova. São casos quase patológicos.
Como diz o Papa Francisco "Ninguém deveria dizer que se mantém longe dos pobres,
porque as suas opções de vida implicam prestar mais atenção a outras
incumbências. Esta é uma desculpa frequente nos ambientes académicos,
empresariais ou profissionais, e até mesmo eclesiais () Ninguém se pode sentir
demitido da preocupação pelos pobres e pela justiça social” “Evangelii Gaudium
201”.
Menos indiferença, menos
alheamento!
Quem mais tem, tem que se sentir responsabilizado !
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