Anomia. Será que alguém sabe o
que significa “Anomia”?
A anomia é uma palavra
generalizada por Émile Durkheim, a propósito do suicídio e significa um estado
de desorientação, de falta de objetivos, de identidade e motivação.
É o oposto da resiliência e da
pro-atividade. Há uns dias atrás, numa visita de estudo de estudantes do Ensino
Secundário, contavam-me que um rapaz com cerca de 17 anos, ao pequeno-almoço,
no hotel ficava parado e não se mexia. Um dos professores, intrigado, apurou
que a mãe desse aluno é que lhe prepara tudo e, por isso, ele não sabia cortar
um pão, barrar a manteiga, preparar um café com leite. Chocante, mas
verdadeiro.
A Juíza Beatriz Borges, com quem já tenho participado em
várias sessões no Tribunal de Família de Faro em Março de 2011, numa
conferência para pais e professores, aludiu à problemática do adulto infantilizado em que “a imaturidade dos pais apresenta
repercussões na capacidade de contenção dos filhos, quer ao nível do consumo de
bens supérfluos, quer no cumprimento de regras básicas de saúde, educação e
convivência que se espelha em aspetos tão básicos como a falta de pontualidade
e assiduidade na escola”.
Continuou a Magistrada Judicial, “Assistimos a uma regressão do estado adulto
em que os pais se comportam como adolescentes ao invés de se apresentarem como
um modelo para as crianças e em que desculpabilizam os comportamentos
desadequados dos filhos imputando a terceiros (incluindo a escola) a falta de
educação dos seus descendentes”, criticou.
Um dos pontos concretos onde isso
se nota muito é a forma como os jovens não ajudam em casa. Chegam a casa,
atiram um sapato para um lado, as meias para o outro, deixam a mochila no chão
e deitam-se a jogar playstation ou a enviar mensagens nos seus smartphones. Os
pais, seus criados, é que preparam as refeições, limpam os pratos, lavam-lhes a
roupinha e dão-lhes dinheiro para o tabaco e as borgas à noite.
Há que obrigá-los a ajudar em
casa, a colocarem os talheres na mesa, a limparem os seus pratos depois das
refeições, a ajudarem a estender a roupa, a guardar a loiça lavada, a arrumarem
a sua roupa, etc.etc..
A nossa vontade, já de si, por
natureza, é mole, como um pudim. Se a essa moleza, se confere e lhe dá mais
moleza ainda, é um desastre quer ao nível profissional, quer ao nível familiar.
Por exemplo, aplicando o conceito
de anomia ao nível da saúde sexual, dizia há uns anos um conhecido médico infectologista brasileiro David Uip, director do
Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo que as coisas acontecem de
forma não planeada e meramente institiva, isto é, sem um enquadramento próprio.
Segundo, estes especialista, a prevenção das doenças (neste caso das DST) está
na educação do impulso e da vontade. Não está na mera informação acerca da
prevenção. Dizia este especialista, numa entrevista, “O que
determina o comportamento é o impulso”. E vai mais longe “O impulso é maior que
o medo”. Por isso, diz ele, “Comportamento você não
muda com campanha, com informação. Você tem uma chance com a educação
continuada, desde a fase pré-adolescente”. Por
isso, remata, “A família precisa conversar. Mas
trabalhamos muito, temos pouco tempo, o que cria distanciamento. Entendo que é
difícil estabelecer uma forma de abordagem. Isso vai muito da maturidade do pai
e da mãe, do convívio, da cumplicidade. Essa é a palavra-chave. Primeiro tem
que aprender a conversar com o filho. E, antes, tem que aprender a ouvir. O
grande truque é saber ouvir o que não está falado. Isso requer um treinamento.
Humildade”. Um desafio, diga-se, nem sempre fácil de levar à pratica. .
Contra
a (nossa) anomia (e a deles), marchar, marchar, marchar !
Miguel
Reis Cunha
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