quarta-feira, 9 de abril de 2014

Contra a anomia, marchar, marchar !!!



Anomia. Será que alguém sabe o que significa “Anomia”?

A anomia é uma palavra generalizada por Émile Durkheim, a propósito do suicídio e significa um estado de desorientação, de falta de objetivos, de identidade e motivação.

É o oposto da resiliência e da pro-atividade. Há uns dias atrás, numa visita de estudo de estudantes do Ensino Secundário, contavam-me que um rapaz com cerca de 17 anos, ao pequeno-almoço, no hotel ficava parado e não se mexia. Um dos professores, intrigado, apurou que a mãe desse aluno é que lhe prepara tudo e, por isso, ele não sabia cortar um pão, barrar a manteiga, preparar um café com leite. Chocante, mas verdadeiro.

A Juíza Beatriz Borges, com quem já tenho participado em várias sessões no Tribunal de Família de Faro em Março de 2011, numa conferência para pais e professores, aludiu à problemática do adulto infantilizado em que a imaturidade dos pais apresenta repercussões na capacidade de contenção dos filhos, quer ao nível do consumo de bens supérfluos, quer no cumprimento de regras básicas de saúde, educação e convivência que se espelha em aspetos tão básicos como a falta de pontualidade e assiduidade na escola”.

Continuou a Magistrada Judicial, “Assistimos a uma regressão do estado adulto em que os pais se comportam como adolescentes ao invés de se apresentarem como um modelo para as crianças e em que desculpabilizam os comportamentos desadequados dos filhos imputando a terceiros (incluindo a escola) a falta de educação dos seus descendentes”, criticou.

Um dos pontos concretos onde isso se nota muito é a forma como os jovens não ajudam em casa. Chegam a casa, atiram um sapato para um lado, as meias para o outro, deixam a mochila no chão e deitam-se a jogar playstation ou a enviar mensagens nos seus smartphones. Os pais, seus criados, é que preparam as refeições, limpam os pratos, lavam-lhes a roupinha e dão-lhes dinheiro para o tabaco e as borgas à noite.

Há que obrigá-los a ajudar em casa, a colocarem os talheres na mesa, a limparem os seus pratos depois das refeições, a ajudarem a estender a roupa, a guardar a loiça lavada, a arrumarem a sua roupa, etc.etc..

A nossa vontade, já de si, por natureza, é mole, como um pudim. Se a essa moleza, se confere e lhe dá mais moleza ainda, é um desastre quer ao nível profissional, quer ao nível familiar.

Por exemplo, aplicando o conceito de anomia ao nível da saúde sexual, dizia há uns anos um conhecido médico infectologista brasileiro David Uip, director do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo que as coisas acontecem de forma não planeada e meramente institiva, isto é, sem um enquadramento próprio. Segundo, estes especialista, a prevenção das doenças (neste caso das DST) está na educação do impulso e da vontade. Não está na mera informação acerca da prevenção. Dizia este especialista, numa entrevista, “O que determina o comportamento é o impulso”. E vai mais longe “O impulso é maior que o medo”. Por isso, diz ele, “Comportamento você não muda com campanha, com informação. Você tem uma chance com a educação continuada, desde a fase pré-adolescente”. Por isso, remata, A família precisa conversar. Mas trabalhamos muito, temos pouco tempo, o que cria distanciamento. Entendo que é difícil estabelecer uma forma de abordagem. Isso vai muito da maturidade do pai e da mãe, do convívio, da cumplicidade. Essa é a palavra-chave. Primeiro tem que aprender a conversar com o filho. E, antes, tem que aprender a ouvir. O grande truque é saber ouvir o que não está falado. Isso requer um treinamento. Humildade”. Um desafio, diga-se, nem sempre fácil de levar à pratica. .

Contra a (nossa) anomia (e a deles), marchar, marchar, marchar !

Miguel Reis Cunha

Sem comentários: