Textos “Algarve Pela Vida”
1ª quinzena de Abril 2014
Dia 1 de Abril 2014- Terça Feira
Diz o
poeta José Tolentino Mendonça “A primavera está por toda a parte. Em nosso
redor a natureza parece vencer a imobilidade do inverno e amontoa os traços
insinuantes do seu reflorir.
Há uma
seiva que revitaliza a paisagem do mundo. Mesmo nos baldios, nos pátios e
quintais abandonados, nos jardins mais desprovidos a primavera desponta com uma
energia que arrebata.
A nossa
vida está prometida à primavera – é a mensagem que o despertar da natureza (e
aquele mais íntimo) nos parecem querer segredar.
Dia 2 de Abril de 2014- Quarta Feira
Para o
poeta José Tolentino Mendonça os versos do Cântico dos Cânticos é o mais
primaveril poema da Bíblia:
«Fala o
meu amado e diz-me: “Levanta-te! Anda, vem daí, ó minha bela amada! Eis que o
inverno já passou, a chuva parou e foi-se embora; despontam as flores na terra,
chegou o tempo das canções, e a voz da rola já se ouve na nossa terra; a
figueira faz brotar os seus figos e as vinhas floridas exalam perfume.
Levanta-te!
Anda, vem daí, ó minha bela amada!
Minha
pomba, nas fendas do rochedo, no escondido dos penhascos: deixa-me ver o teu
rosto, deixa-me ouvir a tua voz; pois a tua voz é doce e o teu rosto,
encantador”» (Ct 2, 10-14).
Neste
poema, a primavera do mundo é uma representação simbólica da primavera interior
que nos desafia.
O nosso
coração não pode continuar eternamente sequestrado pelos impasses dos seus
invernos gelados.
Dia 3 de Abril de 2014- Quinta Feira
Por
vezes, sentimo-nos soterrados e sem forças.
Achamos
que já passou demasiado tempo, que em algum momento do percurso nos perdemos e
que talvez isso seja agora irremediável.
Vamo-nos
deixando ficar num conformismo tácito, insatisfeitos e adiados, a ponto de
desistir. Certamente a voz da primavera não nos deixa indiferentes: ela há de
sempre sobressaltar-nos. Mas olhamos para ela com mais nostalgia do que com
esperança. Contemplámo-la à distância. Ou então defendemo-nos dela como
podemos, fingindo não perceber o que significa. No fundo de nós mesmos,
consideramos que a primavera já não é para nós. E no nosso coração andamos às
voltas com aquela pergunta que também a Bíblia conserva e que não temos paz
enquanto não conseguirmos responder:
- «Pode
um homem, sendo velho, nascer de novo?» (Jo 3,4).
Dia 4 de Abril de 2014- Sexta Feira
Marcas de todo mundo vêm criticando o vício da população nos
smartfones, tablets, etc nos últimos anos, pedindo para que as pessoas larguem
o telefone e prestem mais atenção às pessoas ao redor.
Um novo filme de publicidade da Coca-Cola mostrou em tom de
brincadeira, um produto que promete solucionar esse problema. O Guarda dos
mass-media que é basicamente um cone
vermelho semelhante aos usados nos cães, só que em tamanhos adaptados para os
humanos que os impede de olhar para baixo.
As cenas explicam que o uso do apetrecho irá impedir os viciados
de verificar e olhar para o seu telemóvel em cada oito segundos.
"Você sabia que o mundo gasta 4000 mil anos on-line todos os
meses?", aponta a marca que remata da seguinte forma. “Se você está a ver
este vídeo no seu telemóvel, é hora de colocá-lo para baixo. Olhe ao seu redor,
provavelmente há alguém especial que você pode compartilhar um momento real.
Dia 7 de Abril de 2014- Segunda Feira
Eu sei: tens medo de que não te
retribuam; achas que se pensares nos outros eles não pensarão em ti; que
poderás ficar diminuído por seres sempre tu a ceder…
Mas quem foi que te disse que o amor era um negócio?
Onde aprendeste que era uma actividade centrada em ti mesmo, destinada a dar-te
satisfação?
O amor é um mau negócio: é, como escreveu Camões num soneto lindíssimo, “cuidar
que se ganha em se perder”.
É uma loucura que leva a acreditar que enriquecemos quando nos damos; que só somos
nós mesmos quando não queremos saber de nós.
Dia 8 de Abril de 2014- Terça Feira
Em 11
de Fevereiro de 2007, um quarto dos eleitores portugueses pronunciou-se a favor
da despenalização do aborto a pedido da mãe até às 10 semanas de gestação.
Como era
inevitável e a campanha do Não o havia predito, o aborto acabou por tornar-se numa
chaga social passando a ser usado como anti-conceptivo.
Mas
mais grave ainda , após o referendo, o Estado não só despenalizou o aborto como
tornou-se, ele próprio, o promotor dessa mesma prática, desrespeitando
as consultas de aconselhamento prévias e p consentimento informado, previstos
na lei e estabelecendo um sistema de
incentivos financeiros à sua prática.
Num
país em que 1/5 da população corre o risco de desaparecer devido à crise
demográfico, isto deve-nos dar que pensar.
Dia 9 de Abril de 2014- Quarta Feira
A inexistência de empregos é
agravada pela ausência de competências entre aqueles que têm bons níveis de
educação e procuram esses mesmos empregos.
Os empregadores declaram, a nível
global que as escolas e universidades não estão a preparar, de forma adequada,
os jovens com as competências necessárias aos mercado de trabalho e entendem
que o destaque do ensino deve estar na agilidade em termos de aprendizagem e na
aplicação prática dessa mesma aprendizagem, afastando-se do modelo tradicional
de ensino “de cima para baixo”, com poucas oportunidades de experimentação de
solução de problemas, autodescoberta e criação colaborativa.
Para preparar melhos os nossos estudantes, o
ensino tem também de mudar pois, como afirmava Nelson Mandela. “A educação é a arma mais poderosa para mudar o mundo”.
Dia 10 de Abril de 2014- Quinta Feira
Segundo o grande filósofo espanhol Julian Marias, Quando
se afirma que o feto é uma parte do corpo da mãe diz-se uma falsidade porque o
feto não é uma parte, mas antes um ser que se encontra alojado e implantando no
corpo da mãe.
Por isso, uma mulher diz “estou grávida” e não diz “o meu
corpo está grávido”.
A criança não nascida, mas já concebida é uma realidade
“vindoura” na medida em que chegará se não a paramos. Não é um tumor que se tem
de extirpar.
Outra coisa é agir como Hamlet no drama de Shakespeare,
que fere Polonio com a sua espada enquanto está escondido atrás das cortinas.
Da mesma forma há os que não se atrevem a ferir a criança
senão apenas quando esta está oculto.
Dia 11 de Abril de 2014- Sexta Feira
«Amar sem medida quer dizer:
sacrificar-se sem lamentos,
dar sem recompensa,
perdoar sem rancor,
ajudar sem olhar ao descanso».
Como parece difícil, mas
há que tentar fazê-lo para que o nosso mundo, o nosso país, o nosso trabalho e
a nossa família sejam mais e melhor.
Dia 14 de Abril de 2014- Segunda Feira
Como diz
a deputada Inês Teotónio Pereira Qualquer pai é obrigado a educar em coligação,
o que força necessariamente a acordos, negociações, cedências, discussões,
amuos ou divergências profundas. Começa logo com o nome.
É
fundamental que a criança não assista à discussão, porque se a decisão for em
seu desfavor ela vai fazer tudo por tudo para denunciar o acordo alcançado
usando os argumentos que a mãe ou o pai usaram em seu favor. E está tudo
estragado. Deixar uma criança assistir a uma negociação entre os pais é a mesma
coisa que um governo deixar a CGTP ou a comunicação social assistir a um
Conselho de Ministros em que se discute o corte das pensões.
Os pais,
ao contrário dos governos, não podem ser demitidos, demitir-se, romper
coligações e nunca vão a eleições. Por isso, educar filhos é trabalhar em
permanente coligação apesar das contestações, das birras e das tendências de
cada um. É que nas famílias os pais não caem, quem cai são os filhos.