quinta-feira, 26 de julho de 2012

A gravidade da crise demográfica em Portugal



Aquilo que os nossos descendentes não conseguirão compreender é a nossa inacreditável ligeireza e inoperância perante factos devastadores, que subjazem a tudo o mais: "No primeiro semestre deste ano, nasceram menos quatro mil bebés do que no mesmo período de 2011. Se a tendência de decréscimo se mantiver, 2012 poderá ficar para a história como o ano em que os nascimentos não chegaram aos 90 mil, algo que nunca aconteceu desde que há registos" (DN, 5/Julho). Sem portugueses não há economia, consumo, emprego, ensino, justiça, país. Com a atenção centrada no défice, desemprego, ou pior, nas tricas do momento, Portugal resvala para a decadência perante a apatia generalizada.

Somos um dos países do mundo com menor taxa de fertilidade, muito inferior à dos nossos parceiros, aliás também entre os mais estéreis. Essas sociedades desenvolvidas há muito identificaram o problema e criaram políticas resolutas para o enfrentar, com sucessos muito díspares. Em Portugal a medida recente neste campo é o subsidiação do aborto, que aliás é a única área da Saúde onde os cortes financeiros não têm efeito.

Pior, neste tema, ao contrário dos casos históricos, estamos em violação aberta dos mais elementares princípios da civilização. Luís XVI ou Von Hindenburg podiam dizer que a sua boçalidade seguia os cânones recebidos. Nós, ao apregoarmos o aborto como direito, contrariamos séculos de civilização. Que a atrocidade de arrancar o embrião do seio da sua mãe, prática recusada por toda as sociedades cultas, seja por nós promovida pelo Estado será incompreensível aos nossos poucos descendentes.

Nos raros casos em que o tema surge nas conversas, atribui-se a redução da natalidade à crise e ao desemprego, sem notar a incongruência de serem os pobres os mais férteis. Insiste-se na muralha de falácias que tenta esconder a multidão de pequenos cadáveres.

Prof. João César das Neves

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