sábado, 10 de janeiro de 2015

O homem e a exterioridade

 
 
"O homem, como os seus próprios órgãos genitais, parece estar condenado a uma espécie de exterioridade. Nesse sentido, encontra-se fora de si, está como que fadado a um exílio. A metáfora é oportuna para mostrar que a sexualidade masculina tem uma enorme propensão a não ser amor e a fazer da mulher um objeto sexual. O homem está voltado para fora e a janela através da qual a alma do homem sai, em seu "exílio" pelo mundo, são os olhos. 
Tendencialmente, o homem é um voyeur, alguém que procura o prazer através do "ver", da visão. Por isso a pornografia é uma doença eminentemente masculina, ou seja, quem vê fotos e vídeos de mulheres nuas são homens e quem vê fotos e vídeos de homens nus, são homens também. 
O homem tende a ser um caçador, está sempre à espreita, à procura, com os olhos aguçados. Portanto, a cura do vício da luxúria, para o homem, passa necessariamente pela cura do olhar. É preciso ordenar o olhar de modo que não enxergue a mulher como um objeto
A fé se faz imprescindível nesse processo. É necessário um olhar que enxergue o sobrenatural na mulher, pois se isto não acontecer, dificilmente ela deixará de ser, para o homem, um objeto a ser conquistado; dificilmente ele a amará. 
Dentro do viés teológico oferecido por São João Paulo II, é necessário que o homem, ao olhar para uma mulher, enxergue nela o santuário da vida, o lugar santo que não pode ser profanado. Metaforicamente, o esposo que está unido à sua esposa pelo sagrado laço do matrimônio, pode ser comparado a um sacerdote que entra num santuário. É o sacerdote que está autorizado a entrar no templo da vida. Para tanto, deve estar imbuído de todo respeito e reverência que um lugar "santo" requer. Por esse motivo, uma mulher não pode jamais ser tomada como uma coisa, ser tida como um objeto, muito menos descartada, como se nada valesse. 
O milagre da vida, Deus o realiza no corpo da mulher. Quando o óvulo é fecundado pelo espermatozóide do homem, naquele momento Deus age, Deus cria do nada uma nova vida. Há nele, portanto, uma sacralidade única. Por esse motivo, o Diabo quer transformar o útero da mulher em túmulo, em lugar profanado, em lugar de morte, e não mais num santuário de vida. Cabe ao homem compreender o corpo da mulher nessa perspectiva. 
"Hortus conclusus - jardim fechado" [2], é onde o homem adentra. Sendo assim, há que se ter todo um cuidado, toda uma delicadeza, um respeito para com a preciosidade que subsiste naquele recanto. E uma das formas mais expressivas de virilidade é justamente a de o homem controlar a sua força. Usar toda a força que tem para proteger a sua companheira e, ao mesmo tempo, contê-la, para não vir a machucá-la: esse é o verdadeiro homem no relacionamento com a mulher. 
Além disso, todo homem maduro precisa desenvolver a paternidade. A cultura moderna, todavia, não está mais criando os homens para a paternidade (biológica ou espiritual). Pelo contrário, cada vez mais são louvados os ditos playboys e filhinhos de papai etc., que, quando se veem casados, sentem-se oprimidos e saudosos da antiga vida. 
De forma prática, a cura da luxúria passa pela realidade da família. Ao observar uma bela e desejável mulher, é preciso imediatamente imaginá-la como mãe e esposa. Quando se assiste a um filme pornográfico, é importante pensar que aquelas mulheres poderiam muito bem ser a sua mãe, a sua irmã, a sua esposa ou a sua filha, e que aqueles atos estão sendo cometidos por puro dinheiro, como um sistema de prostituição. Cabe ao homem, enfim, entender que amar é dar a vida: seja transmitindo-a biologicamente aos filhos, seja derramando o próprio sangue por sua família, sendo pai e esposo. Esse é o caminho. 
Já o caminho para ordenar a sexualidade feminina é um pouco diferente do masculino, conforme se disse. Enquanto o homem, por causa do pecado original, tende a usar a mulher como objeto sexual, esta tende a usar aquele como objeto afetivo; e enquanto o homem é um observador, um voyeur, a mulher gosta de ser observada. A castidade da mulher, portanto, está ligada à modéstia. 
A mulher precisa compreender, em primeiro lugar, o seu valor e o quanto se machuca ao seguir o mundo moderno, sexualizado. O valor maior da mulher não está em seu corpo, mas sim, em sua alma, em sua capacidade de amar. Com as mulheres os homens aprendem a amar. 
Relacionamentos baseados na estética, no corpo perfeito, não se sustentam, são fundados na areia, pois a beleza física passa. As mulheres vivem uma verdadeira tortura para manterem seus corpos perfeitos a fim de "atrair" os homens, no entanto, após se casarem, serem mães e envelhecerem, o que lhes resta? Plásticas, procedimentos estéticos, silicones, etc., tudo para permanecerem jovens. 
Por isso, em primeiro lugar, a mulher deve compreender que a pior coisa que pode fazer é se doar sexualmente a um namorado. Sexo não segura os futuros maridos. Sexo não é prova de amor, se for feito fora do casamento. 
Ora, como já foi dito, a sexualidade masculina, corrompida pelo pecado, é exteriorizada. Um homem consegue manter relações sexuais com qualquer coisa, uma mulher, um animal… Tudo pode ser objeto. Por isso, para o homem, ter relações sexuais com a namorada não é nenhum sacrifício ou prova de amor. Ele pode até mentir dizendo que sim, mas faz isso tão somente como arma de sedução.
A maior prova de amor que um homem pode dar a uma mulher, antes do casamento, é manter-se casto. Este é o verdadeiro sacrifício. É importante a mulher entender que se machuca quando mantém uma relação sexual que não significa nada afetivamente. Ainda que o parceiro diga que a ama, mande presentes, mantenha a farsa de "compromisso" (namoro, noivado…), a grande verdade é que depois do sexo ele se levanta e vai embora. 
Numa relação sexual, o homem diz com o corpo à mulher: sou todo teu! No entanto, isso é uma mentira, pois, além de ele se levantar e ir embora, para ter certeza de que aquela relação sexual não produzirá nenhuma consequência - como um filho -, ele recorre - e faz com que a mulher recorra - a um verdadeiro arsenal de métodos contraceptivos, transformando o útero da mulher "amada" num túmulo. As mulheres, por conta de tudo isso, vivem neurotizadas pela beleza e pela perfeição corporal. É claro que o corpo precisa ser cuidado, mas não como algo a ser exposto ou revendido no mercado. Importa revesti-lo com elegância, sabendo que ele vale muito menos que a sua alma.
Um dito popular afirma que, quanto mais se mostra o corpo, menos se vê alma; e, ao contrário, quanto mais se esconde o corpo, mais se enxerga a alma. Isso pode ser constatado, por exemplo, quando um mulher seminua dança em cima de um carro alegórico, no Carnaval. Ninguém, ao vê-la, pensa em sua inteligência ou em suas virtudes. Ao invés, ela se transforma literalmente num pedaço de carne. Sem segredos, sem mistérios, não há mais nada a ser mostrado. Ela revelou o seu corpo e escondeu a sua alma. Uma mulher que se veste sabendo qual o seu valor - ainda que não esteja coberta como uma freira carmelita -, por outro lado, tem a alma brilhando através de seus olhos".
Prefácio
Título Completo: Teologia do Corpo - O amor humano no plano divino

Autor: São João Paulo II

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