quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Trabalhar sobre a debilidade

 
 
Muitas vezes, porque não alcançámos o ideal que almejávamos, pensamos que errámos tudo, que deitámos fora, que desperdiçámos a nossa vida inteira.
Tínhamo-nos proposto tornar-nos importantes na sociedade, na profissão; tínhamos imaginado uma vida ideal de casal; e perdemos de vista o que somos, a nossa especificidade.
As nossas limitações.
Nunca mais voltámos a nós próprios.
Não honrámos a nossa especificidade, investimos sobretudo no outro.
É naturalmente mais fácil. Menos doloroso.
A maior parte desta humanidade identifica-se acriticamente com os modelos culturais e sociais dominantes.
Modelos assumidamente inatingíveis para manter o habitante deste tempo insatisfeito, frustrado, para estar sempre pronto a consumir, a competir para reduzir o sofrimento.
Nós, pelo contrário, deveríamos dar valor à nossa conatural impotência, à nossa debilidade.
Conhecer e saber integrar as nossas limitações con­duz-nos a uma boa autoestima.
Nesta perspetiva, até os erros que fazemos se tornam indicações úteis para continuarmos a viagem da nossa existência.
Por educação, por história pessoal e pelo tipo de sociedade em que vivi, passei quase toda a minha vida sem perdoar a mim mesmo os erros que cometi.
E, no entanto, hoje compreendo bem tudo isso: os nossos erros devem servir para viver melhor e nunca para viver pior.
Por outro lado, quem não aceita cair, continua inconscientemente a acreditar que ainda é a criança omnipotente que foi.
Sentes-te em baixo?
Talvez te sintas assim porque, apesar de todos os teus esforços e das boas intenções, estarás sempre a cometer os mesmos erros.
Quantas vezes prometeste que mudarias para, logo depois, te aperceberes de que nada ou pouco mudou em ti!
Sobretudo no campo afetivo; por exemplo, querer deixar de ser ciumento, mas as feridas antigas reabriram-se.
A vivência, infantil ou da adolescência, de ser rejeitado, de não ser amado, ganha a dianteira e os bons propósitos desaparecem.
Então, livra-te do passado e lembra-te de que, se estás em baixo, deprimido, é porque estás a dar o poder de te fazerem mal a um período da tua vida ou a uma pessoa que nunca deveriam possuí-lo.
E tudo isto pode acontecer porque não tens poder sobre ti.
Não vale a pena mascarares-te de indiferença ou de superioridade; não adianta esconderes-te numa hiperatividade incessante e desatinada para manter distante o vazio interior.
Um vazio que leva à autodestruição, à vontade de fazer mal a ti próprio.
Só quando tiveres voltado a habitar plenamente no teu coração poderás viver serenamente e também poderás perdoar.
Só então, o perdão se torna um ato libertador e não de sofrimento.
Perdoo para libertar-me definitivamente do poder do outro.
A sociedade em que vivemos, porque não quer saber que tem de morrer, provoca depressão, insatisfação.
Não nos deixa viver a realidade. Provoca medo.
Medo de errar, porque se vivem os erros como fracassos da pessoa inteira.
Medo daquilo que não é controlável, previsível; medo de arriscar, medo de sofrer.
Quando não se quer saber que se tem de morrer:
- não se aceita o diferente, 
- não se aceitam as dificuldades, 
- não se aceitam as perdas, 
- não se aceitam as inseguranças, 
- não se aceitam as fragilidades, 
- não se aceitam as recusas nem as rejeições, 
- não se aceitam as incertezas, 
- não se aceita o que é desconhecido, 
- não se aceita a mudança, 
- não se aceita perder.
Precisamos de considerar que a vida não é bonita nem feia, nem clara nem escura, mas um alegre claro-escuro.
Enquanto as pessoas continuarem a ouvir quem as leva a acreditar que o sofrimento e a morte não são evidências que lhe digam respeito, nunca conhecerão a sua verdadeira humanidade.
O sofrimento e a morte fazem parte da vida.
A pessoa que aceita a sua mortalidade, a sua fraqueza, é ativa, aberta às mudanças; é vital, verdadeiramente otimista e com uma autoestima sadia.
Consegue transformar as situações porque conseguiu transformar a sua debilidade.
Quando erra, uma pessoa sadia sabe que é o momento de reconhecer as suas limitações. Esta atitude levá-la-á a errar cada vez menos, porque a pessoa cresceu em humanidade e não em perfeição.
Para este tipo de pessoa, um erro toma-se uma indicação importante, útil para compreender ainda mais profundamente a sua especificidade, a sua unicidade, para prosseguir mais facilmente ao longo do percurso da sua vida e, consequentemente, torna-se mais humana também em relação aos outros, mais acolhedora em relação a quem está em seu redor, capaz de respeitar a diversidade do outro.
Valerio Albisetti
Psicólogo, professor universitário 
In Felizes apesar de tudo, ed. Paulinas
 

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