Um país de velhos
Entre as dívidas e défices que nos escravizam, há um de que ninguém fala. Segundo a ONU, Portugal tem a segunda taxa de fecundidade mais baixa do mundo (1,3), muito longe do equilíbrio geracional (2,1). Pior só mesmo a Bósnia (1,1), que sofreu uma guerra civil e onde o futebol ainda é jogado em campos de batatas.
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Portugal, apesar de ser o sétimo país mais envelhecido do mundo, ainda não acordou para a vida. O OE 2012 mantém uma política fiscal que discrimina o casamento e os filhos. Com os cortes nas deduções fiscais ter filhos passou a ser um privilégio apenas acessível a gente rica ou irresponsável. O aborto continua a ser subsidiado pelos nossos impostos, através do SNS, e os apoios à IVG são mais generosos do que os subsídios à maternidade ou adopção. Ao mesmo tempo, fechamos escolas primárias e maternidades no interior. Se continuarmos a ignorar o problema, o envelhecimento vai acentuar a grave crise social que já vivemos. Sem esquecer as contas do SNS.
Com menos população activa a segurança social será ainda menos sustentável e o ‘graal’ do crescimento económico continuará a ser uma miragem.
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Estamos tão cegos pelos défices de curto prazo que não percebemos a vaga de fundo que nos ameaça. Mais do que o ouro do Banco de Portugal a população é o nosso mais precioso activo.
Conseguirá um país de velhos pagar as suas dívidas?
Já sobrevivemos a outras crises financeiras, mas se não invertemos o declínio demográfico o actual défice será uma brincadeira de crianças.
Paulo Marcelo
In "Diário Económico"
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