domingo, 19 de dezembro de 2010

Entrevista ao prof João César das Neves

Entre 91 e 95 foi assessor económico do professor Cavaco Silva, então primeiro- -ministro. Apoia-o nesta candidatura presidencial, obviamente...?

Nesta candidatura não tenho posição, nunca...

É isso que queria saber...

Não tenho posição. Estou convencido de que o professor Cavaco Silva vai ganhar à primeira e com uma grande vantagem.

E não tem posição por causa das aprovações de algumas leis? Interrupção voluntária da gravidez, casamento entre pessoas do mesmo sexo...

Sim, já o disse publicamente. Sou muito amigo do professor Cavaco Silva, primeiro, pessoalmente, e tenho um grande respeito por ele profissionalmente, pois foi meu professor e trabalhei com ele quatro anos. Politicamente, de facto, desta vez, não o apoio. Apoiei-o nas duas candidaturas dele, na que perdeu e na que ganhou, e fiz parte da comissão, mas desta vez não aceitei. E não é por nenhuma contestação pessoal com ele, é, de facto, porque a assinatura dele está numa enorme quantidade das piores leis contra a família da História de Portugal. Não quero com isto, de maneira nenhuma, criticá- -lo pessoalmente. Penso que é, indiscutivelmente, o melhor dos candidatos. Estou convencido de que vai ganhar. Pessoalmente, nestas eleições, não comento, não participo.

É um daqueles cidadãos portugueses que gostariam que houvesse uma candidatura mais à direita, mais conservadora, mais defensora dos valores da família?

Não é verdade. Se houvesse outra candidatura, ia simplesmente perder tempo, porque não vale a pena. Em primeiro lugar, todos os presidentes da República foram (re)eleitos, e, em segundo, o professor Cavaco Silva tem um grande apoio, que as sondagens dão e é generalizado. Simplesmente, não manifesto publicamente nenhuma posição nestas eleições.

É um reconhecido, notável e notório defensor dos valores da família. Acha que em Portugal algum partido tem uma agenda que satisfaça esse eleitorado?
Acho, primeiro, que a questão da família é a questão civilizacional do nosso tempo. Se vivêssemos no século XIX, provavelmente seria a luta contra a escravatura, ou a luta contra o racismo no século XX. Neste momento, o problema fundamental são os ataques à família e às questões fundamentais.

E o senhor leva isso a peito e empenha-se nessa luta.

Cada um tem de lutar pelas coisas fundamentais deste tempo. Não sou antifascista pela simples razão de que não há fascismo! É muito fácil ser antifascista hoje, mas os antifascistas são desnecessários. Tenho de identificar quais são as lutas civilizacionais do meu tempo e ter uma posição clara sobre elas.

Do seu ponto de vista, nós tivemos um retrocesso civilizacional nestes últimos quatro anos?

Indiscutivelmente.

Por causa da lei da interrupção voluntária da gravidez, dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo?

E os sinais são bem visíveis. Portugal está em vias de extinção! Temos a taxa de fertilidade mais baixa da Europa Ocidental - 1,3% -, quando a taxa de reposição das gerações é de 2,1%. Portugal está a prazo! E isto são os residentes, não são os portugueses! Como são os imigrantes que estão a ter filhos, a cultura portuguesa está ameaçada! A generalidade dos países ocidentais percebeu este problema há 20 anos e começou a ter políticas de promoção da família, da fertilidade, umas bem-sucedidas, outras horríveis, mas várias políticas. Portugal está, alegremente, a brincar com este assunto. É um assunto que não interessa e, em sentido contrário, queremos fazer abortos e casamentos homossexuais, como se fossem as questões fundamentais do nosso tempo! Só uma inconsciência civilizacional assustadora impede que o nosso debate político não jogue por aí. Acho que isto está a partir os partidos. Os nossos partidos continuam a ser montados e estruturados segundo uma lógica económica de há 50 anos, em que havia esquerda e direita, havia socialismo e capitalismo.

A família não está presente na vida pessoal de muitos dos líderes políticos portugueses. Isso é um défice?

Também há esse problema, mas é secundário. O ponto mais importante era que eles percebessem qual o interesse e o bem-estar do País. O que é engraçado é que os partidos estão montados com uma questão que já não existe. O CDS é o que está mais próximo a defender claramente os interesses da família. O Bloco de Esquerda [BE] é, claro, aquele mais contra a família.

E essa agenda do BE tem pressionado muito o PS?

Está um pouco refém, quer polir os emblemas de esquerda, não é? E como, economicamente, o que o PS está a fazer é contrário àquilo que supostamente era o socialismo - está a ser completamente capitalista, às vezes até mais do que outros partidos de direita -, depois tem de fingir que é socialista nesses temas e torna-se, tontamente, escravo dos oportunistas do Bloco de Esquerda.
Entrevista: DN

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