terça-feira, 22 de setembro de 2009

A Esperança está onde menos se espera


Lourenço tem 15 anos e é feliz: é o melhor aluno de um dos mais exclusivos colégios particulares de Cascais/Sintra, tem uma banda e é popular entre as raparigas. O pai, Francisco Figueiredo, é um treinador de futebol que começa a construir uma carreira de sucesso e, apesar de treinar uma equipa modesta, qualificou-se para a final da Taça de Portugal. Mas Francisco é um homem de princípios e não quer ganhar a qualquer custo, o que lhe vai sair caro. É despedido do clube e nenhuma outra equipa o contrata. Todos lhe fecham as portas. E mês após mês, o dinheiro vai-se esgotando. Lourenço tem de deixar o Colégio e passa a frequentar uma Escola Secundária oficial cujos alunos são predominantemente da Cova da Moura. Lourenço, ao mesmo tempo que luta para se integrar numa nova e dura realidade, vai também ajudar o Pai a recuperar a dignidade perdida.
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Depois da trilogia debruçada sobre os dramas da Guerra Colonial e da série “Até Amanhã, Camaradas”, adaptação da obra que Álvaro Cunhal escreveu sob o pseudónimo de Manuel Tiago, o realizador português Joaquim Leitão regressa, quatro anos passados, às salas de cinema do país.

Num salto do passado à actualidade, “A Esperança Está onde menos se Espera” reflecte uma outra viragem no registo habitual de Joaquim Leitão: com argumento de Manuel Arouca, o mais prolífico argumentista das séries de ficção nacionais aqui em co-autoria com Tino Navarro, o filme une dois contextos sociais e económicos aparentemente opostos estabelecendo os valores como as pontes entre ambos.

Assim, temos a história de Lourenço, um adolescente que vive a vida luxuosa e confortável que o pai - treinador de futebol do momento- , lhe concede, até ao dia em que este, por desalinhar numa manobra menos idónea a que o dono do clube o quer obrigar, se vê desempregado e irremediavelmente “fora de jogo”.

Com a família desagregada, os amigos a leste e as contas, feitas dívidas, a crescer à volta, Lourenço passa do melhor colégio de Sintra para uma escola pública num bairro periférico e mal afamado. Uma mudança que de início rejeita e o faz rejeitar a atitude do pai, mas que aos poucos o desafia a ver a realidade com novos olhos, a testar os seus valores, a aceitar as boas oportunidades que lhe surgem pela frente e, finalmente, a descobrir nos outros, quer os até aqui incógnitos ou negativamente rotulados, como os amigos que vai fazendo, quer o pai que julgava conhecer, qualidades jamais imaginadas.

Decididamente actual, o filme congrega, numa mensagem simples e em simultâneo, a intensidade do drama da crise que muitas famílias vivem no momento e a frescura do optimismo que revela como as tragédias, bem aproveitadas, encerram em si excelentes oportunidades de mudança... para melhor!

Margarida Ataíde





Daqui e daqui.

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