quarta-feira, 6 de maio de 2015

Porque não educar a brincar !


Quando se quer ser professor é necessário tirar o curso de professor, quando se quer ser médico é necessário tirar o curso de médico, enfim, poder-se ia-se enumerar a imensidão de cursos necessários mas para se ser pai e mãe na verdade não existe um curso. No entanto, quando se adquire a condição de pai e mãe é para toda a vida e durante vinte e quatro horas por dia. A questão é mesmo se os pais estão preparados para tamanha responsabilidade!

Normalmente seguem os modelos de educação mais próximos que são os dos pais e dos irmãos. Alguns mais preocupados procuram informações nas diversas formas mas colocar em prática só mesmo eles. Cada qual educa o filho da forma que lhe parece ser a mais adequada, a mais sensata. Mas a correria diária é na maioria das vezes a grande traidora porque faz com que os pais fiquem com menos tempo e disponibilidade para seguir mais de perto o seu dia-a-dia.

É fundamental “entrar” no pensamento do filho para perceber certas atitudes que este tem. O filho que normalmente conta tudo torna-se mais fácil, o problema reside essencialmente no que não exterioriza optando por guardar todas as situações e na maioria das vezes não consegue resolvê-las causando-lhe momentos de grande ansiedade.

Eis a história de um menino que “numa saída da escola, assim que chegou junto do pai fez questão de lhe dizer que estava com muita raiva de um colega porque este estava constantemente a humilhá-lo e a critica-lo. Estava tão chateado que lhe desejava todo o mal. O pai ouviu-o calmamente e levou-o até ao quintal onde havia um saco cheio de carvão. Pararam e o pai disse-lhe: “Filho faz de conta que aquela camisa branquinha, que está a secar no estendal é o teu colega e cada pedaço de carvão é um mau pensamento teu para com ele. A camisa é o teu alvo portanto quero que atires todo carvão que está dentro do saco até ao último pedaço, depois eu venho ver como ficou”.

O menino com toda a raiva que tinha e recorrendo à sua força começou a atirar pedaço por pedaço mas o estendal estava longe e poucos eram os pedaços que acertavam no alvo.

Uma hora depois o menino terminou a tarefa. O pai que tinha estado escondido a observá-lo aproximou-se e perguntou-lhe como é que se estava a sentir naquele momento depois de ter esvaziado o saco. O filho aparentemente extenuado e com a garganta seca de cansaço prontamente lhe respondeu que mesmo cansado estava muito feliz porque tinha acertado em muitos pedaços de carvão na camisa.

O pai calmamente pegou na mão do filho e levou-o até ao seu quarto colocando-o à frente do grande espelho onde este se conseguiu ver por inteiro. Assim que viu a sua imagem o susto foi tão grande que recuou dois passos para trás pois apenas via o brilho do seu olhar e a brancura dos seus dentes.

O pai olhou para ele com um olhar marcante mas já habitual em certas situações, como tal, sabia que o que lhe iria dizer era muito importante. Não se enganou, o pai pestanejou e disse-lhe: “Filho viste que a camisa quase não se sujou, mas olha como tu estás. O mal que desejamos aos outros é como o que te acontece a ti.”

Este é um exemplo de um pai que conseguiu tornar uma situação séria num momento lúdico mas muito bem trabalhado. Certamente que este menino nunca mais se esquecerá daquele momento mas se o pai simplesmente lhe tivesse dito que não se deve fazer mal aos outros porque recai sempre para ele certamente que não teria qualquer efeito. Assim, o menino percebeu que “ quando alguém o magoa tem duas opções: se vingar e ser feliz por alguns minutos ou perdoar e ser feliz a vida inteira”. Perdoar é pois uma das chaves que abre a porta da felicidade ainda que no momento não seja fácil. E é nesse preciso momento que o papel dos pais faz toda a diferença no tipo de atitude que os filhos terão ao longo da vida. Como Khalil Gibran disse “os pais são como arcos por onde os vossos filhos, como flechas vivas, se projetam”.

 
anabelaviegasconceicao@gmail.com

Psicóloga Clínica

 

 

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