domingo, 15 de julho de 2007

Aborto: se achavam que havia alguma dose de hipocrisia na moral tradicional do tempo dos nossos pais e avós... ainda não viram nada!


Não, não se trata de batimentos cardíacos do feto, são registos sismográficos verificados no dia seguinte ao referendo ao aborto, em Lisboa.


Entrou em vigor a lei que regulamenta o aborto. Com este pequeno passo legal, dá-se “um grande salto civilizacional”. De um pulo, Portugal passa directamente do obscurantismo de décadas para a primeira linha da modernidade, autorizando o aborto a pedido, sem restrições, sem limitações, quase sem regras, e sem custos para o utilizador. Não foi fácil convencer este povo avesso a mudanças e tão apegado a convicções e tradições, mas por fim conseguiu-se o beneplácito do eleitorado por forma a “acertar o passo com a história”.

Convencer os cidadãos eleitores de que era imperioso impedir que fossem julgadas e punidas mulheres por prática de crime de aborto, não estando nem uma única na prisão, foi quase tão difícil como convencer a opinião pública internacional de que havia armas de destruição maciça em solo Iraquiano, mas conseguiu-se! Votou-se assim a despenalização de algo que já estava completamente despenalizado e vendeu-se ao eleitorado a ideia extraordinária de que o aborto era afinal a solução mágica para melhorar a saúde sexual e reprodutiva (!!!) da mulher.

A partir de agora, toda e qualquer gravidez pode ser legalmente (brutalmente) “interrompida “ em inúmeros estabelecimentos de saúde preparados e equipados para o efeito, oficialmente até às 10 semanas. Sendo assim, dentro de meses, em inícios de 2008, estaremos verdadeiramente numa nova era, uma era em que todo e qualquer bébé nascido em Portugal será uma criança verdadeiramente desejada. As gravidezes indesejadas ou inesperadas, essas, serão definitivamente riscadas do mapa, pelo que 2008 será o ano zero em que só crianças efectivamente desejadas nascerão...

E quando dizemos crianças desejadas, dizemos desejadas, não só pela mãe, e pelo pai, mas também desejadas pelo patrão da mulher ou da jovem, e ainda pelos pais da jovem, e pelos pais do seu namorado, e mesmo pelas confidentes e amigas da mulher-mãe. Ou seja, se todos se puserem de acordo e todos desejarem muito essa criança, ela não será abortada. Pelo contrário, se por exemplo o emprego estiver periclitante e o chefe ou administrador tiver reticências ao longo tempo de ausência que implica uma gravidez, a criança poderá já não ser tão desejada assim; de igual modo se o companheiro ou parceiro sexual da mulher não a quiser, também não fará qualquer sentido levar a gravidez por diante, a mulher deverá dirigir-se ao centro mais próximo e abortar. Neste admirável mundo novo, a mulher deixou finalmente de ser escrava da sua gravidez, muito embora tenha passado a ficar dependente das opiniões e decisões de todos os actores potencialmente afectados pela sua gravidez. A gravidez passou a depender da vontade e validação de toda a envolvente familiar e social, visto que o aborto como solução estará sempre em cima da mesa, legal e grátis. Efectivamente, para a apoiar e ajudar na sua decisão de abortar, o Estado põe agora à disposição da mulher, de forma fácil e acessível, todos os meios necessários para um aborto prático, rápido e seguro. O Estado está de ora em diante verdadeiramente ao lado da mulher. Ao homem ficará reservado o cerimonial de lavar daí as mãos, como Pilatos.

Nota final:

Há dias faleceu uma mulher de 54 anos no Centro de Saúde de Viana do Castelo que, apesar das tentativas de reanimação do INEM, não pôde ser recuperada por não existir nenhum desfibrilhador na unidade.

Foi confirmado pelo Ministério da Saúde que continuam a existir tempos de espera de vários meses para cirurgias do foro oncológico, sendo esse tempo médio de espera em alguns hospitais superior a 7 meses.

1 comentário:

MRC disse...

Caro João Paulo,
Belo post este que aqui deixaste.
Parabéns !
O contraste entre o estado da assistência deficitária da saúde pública em Portugal em situações como o cancro e a histeria do apoio gratuíto e eficaz ao aborto livre é gritante e o próprio bastonário da Ordem dos Médicos está boquiaberto com esta loucura.